quarta-feira, 3 de junho de 2009

Jatene defende novo modelo para a Amazônia


Emanuel Santos

Especial para o EcoAmazônia
Palestrando na última sexta-feira em uma exposição realizada por uma instituição de ensino superior de Santarém, o mestre em economia e ex-governador do estado Simão Jatene, afirmou que é preciso encontrar uma saída para o setor produtivo do estado que tem sido marginalizado pelas medidas tomadas pelos governos, tanto nas esferas federal e estadual. De acordo com ele, é preciso encontrar uma saída para a crise e assim seja possível o estado tomar as rédeas do seu desenvolvimento aproveitando as oportunidades geradas a partir do contexto atual que coloca a Amazônia no centro de discussões em todo o mundo.
"O Brasil, a Amazônia e o Pará em particular tem que enfrentar cada vez mais desafio de reduzir a pobreza e as desigualdades", disse Jatene, mas segundo, ele não é possível pensar em diminuir esses índices sem se pensar em aumentar a produção, emprego e renda e isso esbarra na questão da sustentabilidade. "Desenvolvimento sustentável não é apenas uma justaposição de palavras é uma coisa que tem que sair dos discursos e se incorporar nas práticas do dia-a-dia, sob pena de nós não termos futuro", continuou.
Com esse argumento, Jatene foi enfático ao afirmar que no caso da Amazônia não há outra saída, é preciso produzir preservando e preservar produzindo. "Nós temos que ser capazes de produzir preservando e de preservar produzindo. Não existe uma terceira via e isso vai exigir que os empreendedores tenham cada vez mais essa consciência e essa clareza", afirmou.
Somente assim, será possível corrigir algumas distorções em relação a Amazônia que ocupa 60% do território nacional e tem 12% da população, mas que responde por apenas 8% de tudo o que é produzido no país e o que é pior responde com mais de 50% com as emissões nacionais dos gases responsáveis pelo efeito estufa e consequentemente para o aquecimento global, devido as queimadas resultado de um modelo de exploração que não deveria mais estar sendo usado na região.
"Esse modelo é um modelo falido, que não foi escolhido pela região, mas imposto pelo próprio país", afirmou. Por ser falido, Jatene disse que é necessário mudá-lo, substituí-lo por um outro que melhor se adeque à região, mas isso não significa, entretanto, considerar que todos aqueles que vem atuando de acordo com o modelo em vigor são marginais, mas essas pessoas foram incentivadas a praticar essas atividades e agora precisam de mecanismos para alocá-las dentro do novo modelo, mas viável economicamente e dentro de um contexto sustentável.
"A Amazônia tem espaço para todos os tipos atividades dentro da legalidade, mas para isso o governo precisa ter credibilidade, pois atualmente existe uma crise de credibilidade, onde o setor produtivo desconfia de tudo o que vem do governo, que por sua vez trata o setor como composto por marginais. Essa é uma forma equivocada de tratar uma questão tão importante", opinou.
Esse contexto de total desconfiança e falta de modelo que norteie o desenvolvimento na região gera um quadro no mínimo curioso, no qual, segundo Jatene, ambientalistas dizem que a situação da Amazônia é dramática. Pecuaristas, agricultores e empresários do setor florestal dizem a mesma coisa, e enquanto não se chega a um denominador comum continua em vigor um modelo em que troca-se produtos naturais não renováveis por um desenvolvimento que não se sustenta. "É necessário que se pactue uma nova relação entre os homens e entre estes e a natureza", frisou o ex-governador.
Ainda segundo Jatene a adoção desse novo modelo de uso da Amazônia precisa ser feita com urgência, mas é preciso respeitar a individualidade de cada um dos estados que compõe a região. "Também é preciso considerar que a Amazônia não é homogênea e são necessárias políticas para cada uma dessas 'Amazônias'", disse.
Ele defendeu o Zoneamento Ecológico Econômico e a melhoria do uso de áreas que já foram desmatadas para que assim se evite o avanço sobre outras áreas de florestas primárias. "Esse é o desafio", finalizou.

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